O que fazer quando o som gravado está com o volume muito alto e apenas reduzi-lo não ajuda? E quando os graves estão muito baixos e os agudos muito altos? Neste artigo, você encontrará o conhecimento necessário para usar o compressor de audio sem medo e, ainda, vai entender que ele é um tipo de Processador de Dinâmica, utilizado para atenuar a intensidade de um sinal de som, objetivando uma amplitude de volume, que vai atender sua vontade para determinado som, sem que haja perda na qualidade e dinâmica. Em outras palavras, ele diminui o volume de partes que tem maior força, fazendo o som ficar com certo equilíbrio de intensidade.
O compressor de audio
Primeiramente, imagine que, se acaso, em uma mixagem, o som da guitarra ficou muito alto, aí é preciso adequar seu volume aos demais instrumentos, mas, com apenas um detalhe: deve manter tudo o que o som tem de bom.
Uma resposta simples diria que basta abaixar o volume da track na mixagem, no entanto, se isso for feito, o volume de todas as nuances e variações vai diminuir, sejam as mais elevadas ou as de menor intensidade.
Ademais, isso pode vir a comprometer com som e a qualidade desejada, tendo em vista que as passagens de baixa intensidade, com muito feeling, também serão reduzidas.
Aí entra a utilidade do compressor de audio, que servirá para deixar o som condizente com o desejado, pois irá diminuir o volume das partes mais intensas e aumentar o volume das partes mais baixas.
Permitindo, assim, ser aproveitado o máximo que o som oferece, sem perda de qualidade.
Para a utilização do compressor da maneira correta, é necessário compreender conceitos e parâmetros existentes:
Envelope Sonoro
Todo som produz uma onda e essa onda, como todas as existentes na natureza, possui variância e a essa variância, quando o assunto é som, se dá o nome de
Envelope Sonoro.
Imagem ilustrada de um envelope de audio
Como se nota na imagem, o Envelope é divido em quatro partes e essas partes se desenvolvem dentro de um determinado tempo:
Ataque ou Attack é o início da existência do sinal de som, no qual o repouso é abandonando, dando lugar a uma intensidade crescente. Vale ressaltar que a velocidade dessa etapa dependerá da especificidade de cada som obtido.
Decaimento ou Decay é o momento seguinte ao ataque e anterior à sustentação do som. Essa parte, a depender do timbre analisado, é quase imperceptível, mas, ainda estará lá.
Sustentação ou Sustain se traduz no tempo que dura determinado som, pois, é nessa parte da onda sonora que há relativa estabilização do som.
Relaxamento ou Release é a parte final da onda e nela o som perde intensidade até o completo desaparecimento.
Parâmetros de Compressão
Agora que está claro o que é um Envelope Sonoro, vamos falar da aplicação do compressor de audio.
Compressor de audio com controles para de parâmetro.
O compressor de audio atua com a combinação de parâmetros. Cada parâmetro é responsável por um comando e interferindo diretamente nos outros parâmetros.
De forma mais clara, os parâmetros são o conjunto de funções que produzem alterações no som e formam o compressor de audio.
Tratemos de cada um dos parâmetros, utilizando imagens para exemplificar:
Threshold
Representação gráfica do Threshold
Threshold é o ponto limítrofe, o limite de entrada do sinal de som, que será a base para a atuação do compressor. É se utilizando desse limite que o compressor vai aplicar a limitação no sinal, colocando-o dentro dos parâmetros estabelecidos.
O nível, a depender do compressor, tem sua medida feita por distintas unidades em escala
decibel, podendo ser dBu, dBV, dBFS, entre outras.
Ratio
Representação gráfica do Ratio
Ratio é o meio de controle da quantidade de sinal a ser processada e sua aplicação sempre levará em conta o limite estabelecido pelo Threshold.
Sua medida parte do 1:1, que significa que nada será processado, mesmo que estabelecida a linha limítrofe do threshold.
A incidência da compressão se dará quando o Ratio for maior que 1:1. Por exemplo, se a medida estiver em 2:1, todo o sinal que ultrapassar o threshold, terá metade de seu sinal comprimido, já, se for 4:1, 75% do sinal será comprimido.
Quanto mais for aumentando o ratio, mais será comprimido o sinal, podendo chegar à compressão total, até o threshold, produzindo o mesmo efeito de um
Limiter.
O limiter, assim como o compressor de audio, é um Processador de Dinâmica, no entanto, ele sempre reduzirá o volume ao limite estabelecido, quando o sinal ultrapassar o threshold.
Attack
Representação gráfica do Attack
Assim que o limite do threshold é atingido, já sabemos, pela escolha do ratio, a quantidade de compressão a ser aplicada. Contudo, é preciso definir se o objetivo é que se inicie a compressão instantaneamente ou após determinado tempo.
Essa é a função do Attack, pois, dá a opção de, após atingido o limiar do threshold, ter o controle de quando iniciará a compressão. Ele permite aproveitar um pico de sinal que está soando bem e que poderia ser “estragado” com uma compressão instantânea, quando o sinal chegasse ao threshold.
Assim, com o attack, há a possibilidade de se escolher em quantos microssegundos ou milissegundos, a compressão será processada, após atingido o limiar do threshold.
Release
Representação gráfica do Release
O Release tem função oposta ao que faz o attack. Enquanto o attack controla o tempo que terá início a incidência de processamento do compressor, o release controla o tempo que termina o processamento do compressor.
Ou seja, o release estabelece o tempo que levará para que o sinal comprimido volte ao sinal original não comprimido. Podendo ser de modo rápido, com uma compressão brusca ou de modo lento, produzindo algo sutil, isso dependerá do objetivo de quem faz a compressão.
Combinações de Attack e Release
Existem
combinações de Attack e Release que podem fazer o som mudar completamente, vejamos algumas:
Attack Lento com Release Lento
Traz uma incidência da compressão suave, garante o volume original no ataque e ao fim, no release, é bem gradativo o retorno ao limiar.
Esse tipo de compressão indicado pra níveis de som que necessitem se alongar e que não tenham subidas bruscas de volume.
Attack Lento com Release Rápido
Essa combinação proporciona um som com mais punch. É utilizada para incidir firmeza, devido à intensidade do ataque do som original. Pois, se acentua, ainda mais, pela rápida retração ao limiar, devido ao rápido release.
Attack Rápido com Release Rápido
O interessante dessa combinação é que abre espaço para que outros sons apareçam, como harmônicos, que são menos audíveis, principalmente quando tratamos de gravação de bateria. Ainda, com o Attack e release rápidos é possível garantir um controle dinâmico, o que evita que existam saltos de volume indesejados.
Attack Rápido com Release Lento
É uma combinação interessante, principalmente para voz, por trazer um bom controle dos níveis altos e possibilitar um bom retorno à subida gradativa. Outro ponto positivo, é a facilidade no encaixe em uma mixagem, podendo ser utilizada em inúmeros instrumentos, além da voz.
Knee
Representação gráfica do Soft e do Hard Knee.
Knee significa joelho, o que faz sentido, quando observada a imagem acima. Ele serve para regular a transição estabelecida pelos parâmetros threshold, ratio e attack.
A mudança para o processamento de compressão pode ser feita utilizando-se do:
Hard knee que evidencia a mudança, sendo ele brusca e acentuada.
Soft knee que traz a mudança de modo suave, fazendo com que a compressão quase não seja notada.
Um detalhe sobre a soft knee, é que ele altera o sinal antes mesmo do limiar definido pelo threshold, isso com para que haja uma curvatura mais tranquila.
Make Up Gain
Representação gráfica do Make Up Gain.
Também conhecido como Output Gain, o Make Up Gain possibilita que a perda ocorrida na compressão, possa ser recuperada. Com ele há a possibilidade de manter a compressão e aumentar o ganho. Pois, o sinal não abrangido pela compressão passa a ter mais pressão, ou seja, passa a ficar mais forte.
Vale ressaltar que isso não interfere em nada na compressão ocorrida nos níveis que ultrapassam o threshold. Operará, apenas, nos níveis inferiores.
Como se vê, o compressor não serve apenas para comprimir, mas, ao contrário disso, dá oportunidade de aumentar o ganho sem comprometer a compressão realizada.
Tipos de Compressores
Existem inúmeros tipos de compressores, porém, trataremos, brevemente, de quatro modelos analógicos, que são encontramos, também, em forma de plugins.
Compressor de audio Óptico
Compressor Óptico.
Esse tipo de compressor de audio possui tal nome por processar a dinâmica do sinal se utilizando de um elemento de luz e uma célula ótica. Seu funcionamento se dá com o elemento luminoso emitindo mais luz, quando a intensidade do áudio aumenta. E nesse momento, a luz emitida faz com que a célula ótica exerça reação no sinal, conforme os parâmetros definidos.
Os compressores ópticos possuem ataques lentos. Desse modo, não são indicados para sons que possuem muitos picos, como o som da bateria. Entretanto, é bastante indicado para voz, contrabaixo, violino entre outros sons que não produzem tantos ataques rápidos. Pois, além de terem uma boa resposta, ressaltam magnificamente o som.
Compressor de audio FET
Compressor FET.
Os compressores FET (Field Effect Transistor) não são valvulados. Mas, produzem um som bastante similar e seus circuitos são transistorizados, porém, emulam o som de válvulas.
Eles são o oposto dos ópticos, visto que possuem ataques rápidos. Sua indicação é para contenção de picos de sinal. Ainda, têm a capacidade de fazer compressões extremas, com alta redução de ganho
Ou seja, é ideal para bateria. Além do mais, quando gera grande compressão, cria distorções harmônicas, que faz surgir efeitos novos.
Compressor de audio Valvulados
Compressor Valvulado.
Esses compressores costumam ter resposta mais lenta, quando comparado aos outros compressores. Essa lentidão não é só no attack, mas também no release. Porém, é justamente essa característica que o faz ter um resultado único, produzindo um som vintage inigualável.
Uma peculiaridade desses compressores é a inexistência do ratio. O controle da intensidade do sinal de entrada feito pelo threshold ou pela entrada do sinal.
Os compressores valvulados não são indicados para contenção de picos. E tal como o óptico, são indicados para sons que não possuem tantos ataques rápidos.
Compressor de audio VCA
Compressor VCA.
O compressor de audio VCA (Voltage Controlled Amplifier) é, normalmente, mais barato que os ópticos e valvulados. Todavia, não possui tanta personalidade, quanto esses outros compressores.
Ele tem o ganho regulado pelo controle de voltagem do amplificador. Assim conseguindo reduzir drasticamente o ganho do sinal, com total controle do attack e release. Além do mais, é versátil e atende bem os sinais de ataques desde os rápidos até os mais lentos.
Preparado para usar o compressor de audio?
Pronto, agora você já tem conhecimento suficiente pra trabalhar com o compressor de audio sem ter medo de errar. Podendo, ainda, dar mais alguns passos no estudo desse processador de dinâmica.
Chega de desespero caso sua gravação não fique em um volume condizente com a proposta do som. É só aplicar o compressor de audio, conforme a orientação que tudo funcionará bem.