Ele é usado com certo pé atrás por profissionais de áudio, mas pode trazer bons resultados mesmo em um home studio. O modelo capta de maneira uniforme todos os sons emitidos em seu redor. Resistente, o microfone omnidirecional apresenta um som bem natural e suporte a pressões sonoras mais altas (SPL, Sound pressure level), mas demanda certo cuidado em sua aplicação. É o tipo de microfone mais simples para projetar e serve como referência para a construção de cápsulas com outros padrões de captação. Nesse artigo vamos explicar como usar esse tradicional modelo de forma adequada.
Quando usar o microfone omnidirecional?
- Instrumentos acústicos com ambiência: violão, violino, trompete e outros instrumentos acústicos são bem captados com o omnidirecional. O modelo não distorce com a proximidade e suporta altos níveis de pressão sonora. No entanto, é preciso ficar claro para os envolvidos na produção que a gravação irá registrar também o som emitido em todo o redor do microfone. Uma alternativa bastante usada é mesclar um microfone unidirecional e outro omnidirecional captando o mesmo instrumento. Posicionados em distâncias e ângulos diferentes, resultam em boas opções para mixagem.
- Entrevistas ou vídeos: o microfone de lapela é um dos omnidirecionais mais conhecidos. Como é pequeno e instalado quase sempre para ficar escondido, ele precisa ser omni para apresentar uma boa resposta de todos os lados.
- Orquestra e côro: com os coristas distribuídos em volta do microfone a uma distância adequada, a possibilidade gera um registro natural e espontâneo que pode contribuir para a estética da produção;
- Naipes e conjuntos: também em roda, os instrumentos se posicionam de acordo com as condições do espaço, a variedade de instrumentos, e até com o arranjo e a proposta - se o grupo tem um solista que fica à frente, por exemplo.
- Captar ambiência: uma boa opção em estúdios maiores, caso você goste da acústica da sala e queira obter um reverb natural. Mesmo que os instrumentos e amplificadores já estejam sendo gravados com cardióides, um microfone omnidirecional bem posicionado pode atender a essa possibilidade, desde que estejam fora da distância crítica (leia mais sobre distância crítica abaixo).
Padrão Polar do Microfone Omnidirecional
Padrão de captação, ou padrão polar, é a sensibilidade que o microfone tem de acordo com a direção que vem o som.
- No cardióide, é captado majoritariamente o som vindo da frente da cápsula.
- O modelo bidirecional (figura 8) pega o que vem da frente e de trás, não dos lados.
- Já o microfone omnidirecional capta tudo. Seu ângulo de cobertura é de 360o. Ou seja, independente de onde esteja posicionada a fonte sonora ao redor do mic, será captado com igual intensidade. O modelo pode inclusive ser utilizado de cabeça para baixo sem problemas.
Porém, o microfone omni se torna mais direcional quando exposto a altas frequências. Caso o aparelho esteja captando fontes sonoras por todo o ângulo de cobertura, os sons emitidos em alta frequência serão privilegiados pela frente e traseira da cápsula.
Um microfone omnidirecional pode ser tanto dinâmico quanto condensador!
Não confunda o padrão de captação com o mecanismo de transdução do microfone. A segunda categoria se refere à sensibilidade da membrana do aparelho. Temos o microfone dinamico, condensador e de fita. O mic de fita tradicional apresenta padrão de captação figura 8 (bidirecional), porém atualmente já existem ribbons com padrões variáveis. Os mics dinâmicos e condensadores variam entre diversos padrões, muitos deles omnidirecionais.
Por que usar o microfone omnidirecional?
Menos barulho de vento
Esse modelo não possui uma espécie de porta acústica presente nos cardióides, que permite a entrada de vento. Assim, ele resiste aos sopros de ventos que atrapalham a captação;
Pops menos evidentes
As indesejadas plosivas, produzidas pelas letras P e T, também são pouco sentidas pelo microfone omni.
Efeito proximidade reduzido
Também conhecido como acúmulo de graves (boominess), essa é muito evidente em microfones direcionais. Quando mais perto a fonte sonora fica da cápsula, mais altas as frequências graves. A aproximação extrema pode até produzir distorção no áudio registrado.
O omnidirecional tem esse efeito muito reduzido. A distância do cantor ou instrumento pouco interfere na equalização da gravação, o que ajuda na performance e na pós-produção. Essa característica faz do modelo uma boa opção para pequenos espaços como home studio. A dificuldade é quando esses locais não tem tratamento acustico home studio, o que pode comprometer a viabilidade do omnidirecional. Além disso, barulhos de baixa freqüência provocados por manuseio, movimentos pela sala e ruídos de fora são muito menores em omni do que cardióides.
O que é distância crítica?
É um distância medida a partir da fonte sonora, na qual o som produzido e o som refletido são iguais em intensidade. Caso o microfone seja posicionado exatamente nessa faixa de espaço ou mais longe, a qualidade da gravação ficará altamente comprometida. Nessa área, o som direto e o som reverberado se misturam, provocando um efeito de eco e reverb conhecido como “bottom of the barrel”, em que o áudio registrado fica ininteligível.
Em uma gravação, o microfone omnidirecional não deve ficar posicionado a mais que 30% da Distância crítica em relação a fonte sonora. Isso é: se a DC for de 5 metros, o mic deve estar a no máximo 1,5 metros da fonte. Já o cardióide não pode ficar a mais de 50% da distância crítica.
No entanto, se for inevitável ou intencional o posicionamento depois da distância crítica, o omnidirecional é uma melhor opção, pois capta menos barulho de vento, menos ultra-graves. Além disso, não fará diferença de direcionalidade, já que após a distância crítica as reflexões tem a mesma intensidade do som direto, então virar um cardióide para a fonte sonora ou não dará na mesma. Um exemplo é o microfone de captação de room. Além disso, o ganho necessário para que aconteça feedback (microfonia) é muito maior no omnidirecional, fazendo-o uma melhor escolha em ao vivos para mics posicionados após a distância crítica.Quando não usar o microfone omnidirecional
Quando a produção deseja processar consideravelmente as trilhas gravadas. Para utilizar, durante a pós produção, alguns das centenas de plugins para efeitos de áudio disponíveis no mercado, é recomendado que a captação seja mais seca e limpa possível. Ou seja, sem interferência do ambiente. Nesse caso, o omni não é a melhor saída, uma vez que o modelo, ainda que esteja gravando apenas um instrumento ou voz, capta toda a ambiência do espaço.
O ângulo de captação do mic omnidirecional não permite que o modelo seja utilizado para microfonação de amplificadores. A captação do alto-falante das caixas é melhor feita por cardióides, que ignoram estímulos sonoros vindos de fora da frente da cápsula.
Para não prejudicar a captação, também não é aconselhado operar omnis perto de caixas de PA ou monitores de retorno.
O microfone omnidirecional foi um dos primeiros modelos projetados e integrou vários experimentos realizados no desenvolvimento das gravações. Até hoje, algumas técnicas de gravação em estéreo com omni são adotadas em produções de áudio. Uma das mais conhecidas é a Decca Tree.
Decca tree
Criada pela tradicional gravadora inglesa Decca, a Decca tree (árvore) é uma técnica de gravação que utiliza três microfones omnidirecionais formando um triângulo.
- Dois deles estão a uma distância tal um do outro que se forma no meio do caminho um “buraco” na captação.
- O terceiro mic, considerado o central, preenche esse espaço, posicionado um pouco abaixo dos demais, apontado para a fonte sonora.
O Decca tree forma um triângulo. Sua captação configura um desenho sonoro amplo, dinâmico e bem-distribuído. Captura um estéreo intenso em relação à técnica ORTF - que combina a captação de microfones separados por 17 cm, formando um ângulo de 110o. Na Decca Tree recomenda-se que os mics estejam a no mínimo 1,5m de distância um do outro, para controle de interferência. Porém, esse intervalo pode variar de acordo com a produção, a sala e o grupo musical. Talvez o único emprego do microfone omnidirecional em performances ao vivo, a técnica é aplicada em gravações de orquestras e grandes conjuntos. Em estúdios, apresenta bom desempenho também com kits de percussão e captação de sala.
Microfone Omnidirecional x Cardióide
Feedback
- Omnidirecional: baixo feedback. Quando o feedback é alimentado, acontece a partir de frequências médias e de forma lenta.
- Cardióide: alto ganho para feedback. Surge de forma rápida e provocado por frequências mais altas.
Proximidade
- Omnidirecional: mantém frequências amplas de forma suave e uniforme quando a fonte sonora se posiciona perto da cápsula.
- Cardióide: eleva os graves na medida em que a fonte se aproxima do mic. Por isso, demanda cuidados com a equalização.
Direcionalidade
- Omnidirecional: apesar de enaltecer a fonte sonora que está mais próxima, não deixa de captar todo som que é emitido em um ângulo de 360º.
- Cardióide: capta apenas o som produzido na frente do aparelho, rejeitando praticamente tudo que vem de outras direções.
Modelos de microfone omnidirecional
AT8010 da Audiotechnica:
Usado até para gravações de palestras em auditório, é um dos modelos mais populares de omni condensadores. Tem resposta de frequência ampla e captação suave. Modelo portátil. Funciona com bateria ou phantom power.
VP64 da Shure
Elegante microfone dinâmico de mão. O ganho nos médios torna o modelo ideal para voz. Possui um sistema interno de shock-mount de borracha que diminui o ruído de manuseio.
Deu pra entender para que serve o microfone omnidirecional? Com certeza adquirir um exemplar desse tradicional modelo representa uma gama de possibilidades para seu home studio!